segunda-feira, 19 de maio de 2025

nota 3

tudo é novo aqui, os rostos, a atmosfera, cheiros, costumes, os sons. a língua portuguesa continua a mesma, embora o sotaque não seja tão igual quanto supoem-se. o ritmo das coisas também é peculiar. não me sinto desconfortável, o cotidiano é uma surpresa e os alvoreceres não são devotos à mesmice, como antes. não há silêncio, a mulher da peixaria, os empregados de mesa dos restaurantes da Alfama estão entregues às cusquices, tão surreal... parece interiorano, um caminho onde Jorge Amado e Saramago se encontrariam, com certeza. e é ilário às vezes. o Tejo em seus caprichos que a maré dita, o Atlântico também se manifesta, as melodias de ambos se completam na foz e o tamanho deles não importa, são amantes em uma cena onde um não se separam do outro. os dias passam lentos, ao sabor dos ventos e da chuva e chove muito. o terceiro elemento salga e invade a docilidade aquosa das manhãs lisboetas. a cidade ri e chora ao mesmo tempo.

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nota 8

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