sábado, 24 de maio de 2025
nota 5
não há porque se esconder e negar as obcessões. somos tão peculiares em linhas extremas do entregar-se e porque julgar? e porque não nos jogar, como anjos num mergulho cego, nus, sem santidade, sanidade, pudor ou asas? não há o outro, não há amado e amante, não há nada pois tudo é comiseração, desejo e histeria, um e outro num só, cinestésicos. onde está a linha, onde está o limite e a fronteira disso? alguém, se puder, me aponte onde é o começo e o fim, a entrada e a saída e me diga ainda se estou na gravidade zero, pois flutuo, deslizo e me refastelo. quero e não quero, e não sei dizer se é como Alan Poe descreveu, "um sonho dentro de um sonho", ao avesso, eu diria... shhh... silêncio, não se deixe enganar por esses pensamentos, deixa eu ser antes que me julgue, até porque estou surda ao mundo, estou imune a tudo que não seja isso, nada é tão meu quanto isso. seria um estágio transitório entre o prazer e a fúria? seria a pequena morte? ou apenas seria, sem palavras que aqui coubessem, como se a maioria já não soubesse, é. quem nunca viveu que julgue, quem nunca sentiu que almeje e quem já passou pelo mesmo: recorde. eu já havia esquecido, dormente como eu estava não me recordava. e porque não admitir o espaço para a loucura, depravação e emulação de qualquer coisa abaixo ou acima de qualquer julgamento alheio, o meu, o teu o nosso e o vosso, amém. devoramos-nos tal esfinges mancas, famintas de si e de tudo e recheadas de ouro e merda. apenas sentimos, sentimos e sentimos... e como disse Jobim e não ouso citar, e como alguém respondeu e eu me calarei apenas para preservar e respeitar os "mistérios gozosos" dos terços rezados e vertidos entre os dedos sacros das minhas avós.
sexta-feira, 23 de maio de 2025
nota 4
saber a hora de passar, saber a hora de parar, e seguir mesmo que seja inconstante é sempre seguir. por vezes a vida te leva, por hora a vida te impede e o fluxo nunca está em nossas mãos totalmente. um dos remos, o leme, o conhecimento do bailar das águas, talvez isso seja controlável, mas nem sempre você quer ou pode remar, quase nunca o leme depende só de tua força e as marés, correntezas, assim como o tempo fogem entre seus dedos. somos meros expectadores, muitas das vezes, a postos para atuar e nem sempre com uma atuação eficaz. eis que isso é a vida. eis que isso é sobre navegar. talvez seja esse navegar ao qual Pessoa se referia, quem sabe...
segunda-feira, 19 de maio de 2025
nota 3
tudo é novo aqui, os rostos, a atmosfera, cheiros, costumes, os sons. a língua portuguesa continua a mesma, embora o sotaque não seja tão igual quanto supoem-se. o ritmo das coisas também é peculiar. não me sinto desconfortável, o cotidiano é uma surpresa e os alvoreceres não são devotos à mesmice, como antes. não há silêncio, a mulher da peixaria, os empregados de mesa dos restaurantes da Alfama estão entregues às cusquices, tão surreal... parece interiorano, um caminho onde Jorge Amado e Saramago se encontrariam, com certeza. e é ilário às vezes. o Tejo em seus caprichos que a maré dita, o Atlântico também se manifesta, as melodias de ambos se completam na foz e o tamanho deles não importa, são amantes em uma cena onde um não se separam do outro. os dias passam lentos, ao sabor dos ventos e da chuva e chove muito. o terceiro elemento salga e invade a docilidade aquosa das manhãs lisboetas. a cidade ri e chora ao mesmo tempo.
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nota 8
sou vizinha da última morada de Camões e não tive coragem de visitá-lo. o senhor que há tantos anos me inspirou às primeiras estrofes e cam...
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era para ser algo ligeiro e de pouca profundidade, já havia me conformado com as pequenas notas de cravo da vida, já havia me acostumado co...
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hoje acordei me perguntando quantas faces minhas já encarei nos espelhos e quantas iguais a mim vivem nesse mundo de julgamentos e inquisi...
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há três dias Lisboa chora e se derrama sem dramas sobre as águas do Tejo e ele a recebe inteiro... há uma semana não durmo vivendo o que so...